Os enamorados
Por ele tudo se desenvolvia. Por ela tudo era paz e harmonia. No seu colo ele repousou a cabeça e lhe perguntou sobre a vida. Era corajoso, mas não totalmente. Parecia não ser suficientemente corajoso sem ela.
Ela era a vênus estetopígica, quardava em si o segredo da vida insondável naquela época distante e pré-histórica. Ele era o caçador corajoso e notável desenhista. Não caçava sem pedir a ela sua opinião de que caminhos seguir para encontrar a presa. Ela sabia as histórias que as núvens contavam. Sem ela ele não era forte e ela não teria porquê. Ele era força e ela a delicadeza.
Ela era a sibila que orientava os homens sobre assuntos de conquistas. Do fundo da caverna desprendiam-se vapores. A outra mulher que aparece nesta cena era mãe de muitos filhos, alimentava a todos e cultivava o solo. Tinha as mamas sempre fartas e volumosas. A caverna rescendia a saborosos assados.
Ele aprendeu a fazer mágicas divertindo seu público de amigos, embora dispendesse muito tempo a fazer seu trabalho em jóias de outro e pedras desenhadas por ele mesmo. Ela ficou encantada. Vestia-se de azul.Não cabia em si. Era mãe de muitos filhos. Mas, sentia que ele ficava indiferente e passou a ter devaneios. Numa outra encarnação fora uma sacerdotiza, mulher importante que podia tomar vinho como os homens, mas não se lembrava disso, apenas tinha sonhos em que vestia-se de branco com escamas luminosas furta-cor e um véu branco transparente lhe cobria o rosto de um belo mistério. Dizia mantras. Falava com linda voz que parecia vir de um microfone. Vapores exalavam perfumes. Não possuia marido ou filhos, mas era procurada por muitos homens. Escrevia em rolos de papel. Sabia as respostas todas na ponta da língua.
Ela envelheceu. O marido interessou-se por jovens e escolheu uma jovem muito bonita para casar-se novamente, mas estava na dúvida. A dúvida dissipou-se quando o sujeito de 45 anos casou-se novamente. Esse casamento teve altos e baixos e um dia ele estava muito velho e cansado. Não fez mais sexo e então sentiu saudades daquela mulher que fora uma sacerdotiza a quem ele sempre consultou.
A mulher do vestido azul foi ficando cada vez mais segura e independente do seu ex-marido. Passou a viver só a exemplo de um ermitão que conheceu com o qual conversava de vez em quando, ou ele não seria um ermitão. Fez faculdade de psicologia aos 42 anos.
Veio a Deusa, aspecto feminino de Deus perguntar a sacerdotiza que agora estudava matérias da alma se ela casaria novamente. Ela disse que não. Mas, disse que queria poder conversar sem brigar se possível. Isso seria legal. Queria falar muito e contar todas as suas histórias para aquele senhor a quem nunca deixara de amar, seu ourives, seu mágico, o mago que um dia despertara para os segredos da alquimia. Para outras pessoas ela já tinha muitas histórias para contar e de vez em quando era feliz.Também queria aprender a escrever melhor e fazer um blog na internet. Estava economizando para ter um computador, pois só ia a ciber cafés de vez em quando. Trabalhava como psicóloga junguiana e via o tarô de graça para suas amigas. Gostava muito de tomar chá e convidar alguém para conversar sobre suas histórias e sobre mitologia dos povos.
Veio o Deus, aspecto masculino da Deusa perguntar se o mago gostaria de casar novamente, tendo em vista que estava divorciado. Ele disse que não. Isso não importava mais. Não se arrependera de nenhuma de suas experiências e gostaria de ficar em silêncio a ouvir todos os sons do mundo que pudesse perceber ao mesmo tempo e uma voz de mulher a sussurar nas entranhas da terra. Ao seu redor haveria perfume enegriante de sândalus, almíscar, jasmins e rosas e a música da selvas lhe revelaria a verdade contida no vento a soprar nas folhas e nas ramas.
Eles se encontraram de fato, mas apenas dentro de si mesmos.
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