O canto e a dor da Iara
Nos tinhamos muito medo do que ficasse ou não ficasse bem.
_Eu estou bem assim?
_Não muito. Você está a flor da pele?
_A pele em feridas latejantes?
_Sim.
_Isso deve doer muito, não é?
_Muito.
_Faça da dor uma rosa e desabroche toda.
_No canto da Sereia?
_Não da Iara.
_A Iara não devora a carne de alguém. A sereia o faz.
A Iara pode seduzir. A sereia não. A Iara pode seduzir quem ela escolhe e não deseja qualquer um homem.
_Ela escolheu alguém?
_Sim. Ela continua cantando e seduzindo, com suas lembranças, seu cheiro, seu blog, sua voz que fala no silêncio e com a verdade de sua alma, a justiça que busca para si mesma, a sua dignidade, a sua vida. O rio se veste de azul e a sereia nada dançando, feliz por poder simplesmente ser, mesmo quando é confundida com sereias devoradoras de homens. Mesmo quando os moralistas condenam a sereia, ela continua sendo mulher e continua sendo um peixe que se transforma em lábios e que beija seu amado na boca.
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