<p>******)FILHA DO SOL E DA lUA(******</p>: Nos primordios da Filosofia

Monday, December 18, 2006

Nos primordios da Filosofia

  • Mitologia antes da Filosofia.

Estudei no Colégio e alhures que a Mitologia seria como terreno infértil despido de aproveitamento e sabedoria. Muito mais tarde constatei justamente o contrário, bem ao contrário. Mitos e lendas em muitos casos se eternizam mais do que as convenções e a conclusões cientificas. Enquanto convêm ao homem comum e ao consultório de psicologia junguiana, quiçá freudiana, os mitos transformam-se e renascem removendo-se camadas de esclarecimento sobre a natureza humana e sobre o indivíduo. Terreno fértil, mas sempre considerado anterior a Filosofia propriamente dita e oficializada, esta mãe de todas as ciências.

  • PHYSIS E ARKHÉ

Palavras gregas no seu sentido original não se traduzem exatamente para nenhuma língua falada hoje. Mas, arriscam-se os estudiosos.

No princípio do pensamento filosófico esse era despido de mitos e quase que completamente despido de alegorias a não ser aquelas de mitos que resistiam ao tempo para ajudar especulações pensantes. Havia dois conceitos que se entrelaçavam num laço sublime: physis e arkhé. Physis é mais do que Natureza. Physis é natureza e realidade, manifestação, terreno na especulação filosófica, matéria prima abstrata sobre a qual os primeiros filósofos iniciaram a bela obra da construção desta Ciência sempre tão especulativa. Physis não existe sem arkhé e arkhé é este movimento transformador que eu comparo a um vento que carrega as sementes da vida e organiza e desorganiza de maneira controlada desde que a natureza seja aquela sobre a qual o homem ainda respeita, ou melhor a physis sobre a qual recai a reverência humana, santuário divino sobre o qual o ser humano realiza sua função amante através de suas manifestações erráticas sobre as quais recaem amor e perdão. A physis nunca se encontra pronta e acabada, mas em transformação e movimento. Assim deve ser aceito em nossos corações ou corremos o risco de nos tornamos quem sabe como rei Midas constelando e petrificando realidades.

Arkhé traduz-se também por comando. E este comando inteligente sobre physis, natureza e seus arredores tem a faculdade de conciliar as contradições universais e os opostos que se harmonizam, lembrando que os gregos, aqueles antigos que nos fazem pensar hoje, tal como pensamos muito até aqui, buscavam a harmonia das formas e do conteúdo, uma harmonia nem sempre possível, mas à qual procuramos chegar a ela cada vez mais através da extração de denominadores comuns e aceitação da diversidade das coisas. Quanto mais uma coisa é diferente e oposta a outra maior assim é sua propriedade de aclopar-se a outra de forma harmônica, tanto que que vou te revelar o segredo de alguns filosófos escondidos nas grutas nos tempos de segredo: os opostos são os mesmos. Os meios termos se intercalam em nuances suavizadas de manifestação primordial buscando seus pares harmônicos e o ao ser humano, talvez até mesmo a alguns animais inteligentes foi dado este dom de através do raciocício, sensação, sentimento e intuição buscarem harmonias mesmo naquelas tonalidades dissonantes em que se arriscou muito Villa Lobos. Harmonizam-se ao Caos aquelas obras caóticas que denunciam corruptelas socias generalizadas também para falarmos de harmonia da forma mais ampla possível, pois ela significa também no caos o retorno, na loucura a busca de uma razão ainda possível enquanto houver vida da psique.

Da Physis e do Arkhé se ocuparam na Grécia Antiga os primeiros filósofos. Hoje, de uma forma completamente contemporânea a filósofa do momento, Nancy Mangabeira Unger, ocupa-se deste mesmo tema de uma forma totalmente engajada a realidade atual, trazendo a uma lição espiritual que se acopla completamente a physis em que vivemos agora, uma experiência semi-árida (ou em alguns casos árida mesmo) em que diante de duas realidades, a da angústia e da da fé, nos vemos obrigados a optar pela última a título de salvação pessoal e ao menos do nicho ecológico onde estas ou onde estás, algo desarmonizado e confuso, devastado e pouco reverenciado em diversos casos, onde precisamos dar valor sobretudo a este veio d'água que nos sustém para que ofertemos a nossa sombra sempre tão hospitaleira a peregrinos eventuais, peregrinos como todos nós, aqueles que trilham os caminhos buscando Harmonia, Equilibrio, Beleza, Amor... Quanto mais uma alma se liga a Fonte, mais ela oferece-se humildemente àqueles que passam cansados de andar e procurar.

Com o apóio da

História da Filosofia

Os pensadores

Editora Nova Cultural

e

Da foz à nascente

o recado do rio

de Nancy Mangabeira Unger

Editora Cortez