Ouro dentro de si
A professora aposentada lecionou Geografia, História e OSPB para a 7ªs e 8ªs séries de um colégio público conceituado que hoje em dia transformou-se num antro de maus elementos. Maus elementos ou jovens desajustados e crianças mal compreendidas? Estas questões doem no peito daquela senhora com alguma juventude que a faz mais saudável e dinâmica do que inúmeros jovens e crianças como aquelas com quem ela passava algumas horas conversando com muita abertura entre alunos e mestra.
Seu visual é o de uma pessoa chata, séria, fechada em si mesma e que parece condenar a muitos. O seu visual condena aquele vigilante de loja, apesar dela ter sido honesta o tempo todo ao longo de sua vida. O vigilante não estudou a não ser até a 3ª série e não teve a oportunidade de ouvir suas conversas sobre a vida, sobre a virtude e como devemos fazer para sermos seres humanos completos. Não teve a oportunidade de ler o livro de Huxley que ela sempre recomendáva para os alunos: O admirável mundo novo. E o livro era aproveitado numa atividade conjunta com a professora de filosofia.
Além de não ter estudado o vigilante era revoltado, não compreendia porque a professora não gostava de comprar nas lojas em que ele vigiava. A sua conduta era completamente antiprofissional. O rapaz louro, algo e robusto atravessa-se no meio da calçada e chamava alguns transeuntes ao longe gritando coisas sobre o futebol, cochichava no ouvido das pessoas e ria alto, não sabia ter um contato visual adequado face a face com ela, professora. Quando a comprimentava a anos atrás ele dizia "Bom dia, senhora" e o seu bom dia senhora não queria dizer "Bom dia, senhora", mas sim queria dizer "Bom, dia sua velha chata". Velha ela? Senhora, ela? Tinha apenas sessenta anos bem vividos numa escola, ensinando os seus alunos nunca serem como aquele vigilante. Então, como se este vigilante bandido fosse um herói de guerra e a professora de porte franzino, cabelo channel pintado com uma tinta preta e opaca e óculos de grossas lentes, portadora de um vasto quoeficiente intelectual, uma marginal, uma ameaça a sociedade, o vigilante ignorante e fanfarrão seguiu aquela mulher perigosa. Ele a seguiu na sua frente como manda a técnica policial, as técnicas de defesa pessoal, enquanto ela passava pela calçada e ao ver uma linda criança inclinou seu rosto e ofertou a criança um sorriso raro em seu caso. O rapaz, de torax largo, quando os tórax largos muitas vezes servem apenas para assustar, sobretudo quando portam ali muita gordura peitoral e abdominal, seguiu a professora ameaçadora para ele e dobrou a esquina na sua frente. Foi até quase a farmácia onde a professora mandaria fazer uma fórmula floral para seu probleminha de rigidez, o rock water dos florais de bach. E apenas não atravessou a Rua que leva a farmácia onde a professora manda fazer suas fórmulas.
A professora pensou naquela situação tão surreal e a princípio desejou um bandido bem equipado para aquele vigilante bandido, um dragão particular feito sob medida para ele, mas depois pensou que ele não deveria ter tido bons professores e deveria ter recebido muitas humilhações para ser o que era, como era e não estar atrás dos bandidos certos, das grandes ameaças, das gangues que invadiram o bairro e levaram o dinheiro de alguns caixas de lojas e levaram vários computadores de vários cursos de Língua e de Computação naquela cidade. Ele não enfrentaria estes bandidos, porque não tinha sido seu aluno, não tinha lido Aldox Huxley, não tinha ouvido suas conversas sobre as virtudes, sobre o diálogo e sobre a sabedoria em meio a tantas lições que a História nos reservou em que ela fizera seus alunos refletirem.
Um homem pode muito bem ser ignorante, mas em sendo ignorante, o que todos nós somos de alguma forma, devemos estar cientes de nossos papéis na vida e seguirmos nossos propósitos naquilo que fazemos nunca nos apartando da sabedoria.
A sociedade vinha se tornando uma ameaça para as pessoas de bem e um lugar de poder para ignorantes de sabedoria. Os valores estavam invertidos. Desde de cedo a professora avisara a seus alunos que os valores estavam invertidos e desde cedo, naquela época em que ela lecionava muitos homens cheios de valores e virtudes foram torturados e perseguidos.
Um dia a professora....Como você quer que ela se chame?................(nome da professora nos pontinhos) falou para um ex aluno seu que havia sido perseguido por suas idéias políticas que ele não tinha sido perseguido por acaso, mas porque tinha ouro dentro de si mesmo. E agora a professora, um tanto magoada reflete usando suas próprias palavras para aquele menino tão brilhante que usava seus ensinamentos para aprofundar-se em seus pensamentos.
_Porque sou tão perseguida? Acaso carrego ouro comigo?
<< Home