Em preto e branco novamente e ainda
As fotos são raras, muito raras.
O preto e branco me parece mais colorido do que o colorido que fornece informações desnecessárias.
As imagens podem ter direitos autorais. Sim. Podem. As pessoas também.
No primeiro caso o olhar e o cabelo lembravam o antigo James Deen que eu não vi no cinema lá pelos anos sessenta na primeira infância que tivemos separados, bem separados e só o via de vez em quando quando evitavamos o contato. Nossos pais quando têm amigos procuram unir crianças que não se conhecem bem e só se vêem de vez em quando e isso quase nunca dá certo. Meu olhar infantil para ele sempre foi de desconfiança e rejeição, ao menos da minha parte. Tinha de ir na casa daquele menino. Era tímida e disso eu sabia muito bem e tinha este egocentrismo infantil de não perceber como ele poderia sentir-se por dentro. Sua mãe avisava sempre do que ele deveria fazer para receber na frente dos seus convidados e ele olhava com olhar de aborrecimento como se prestasse sacrifício e é claro que era mesmo chato, pensando bem. Quem gostaria de ser gentil aos seis, sete, oito anos de idade? Perceptiva eu percebia estas coisas. E ele, bom deixa ele... Era o que eu sentia a respeito. Quem diria que um dia iria me apaixonar pela mesma criatura? Estranhamente como num filme de terror ele contornava a mesa da sala com um tricículo. Eu queria ficar conversando com as mulheres, assunto de mulher, pernas cruzadas a ouvir sobre relacionamentos e sentimentos pessoais, mas era criança e então a sua mãe insistia para que que ele me recebesse alhures no seu quarto com seus briquedos nada convidativos, provavelmente aviões, armas e carrinhos. Pracinha de balanço e ele num canto, eu no outro, o mais distante possível. Assim era.
Ele que era feio foi ficando cada vez mais bonito e meus olhos se encheram dele como quem enche os olhos dos Ipês roxos floridos desta nossa cidade. Enxer-me e preencher-me dele era como o ar, fazendo-me subir aos céus num vôo razante onde tudo pesava as voltas de um ser tão leve, independentemente da balança da farmácia.
Depois de parecer-se um pouco com James Deen, ter aquele sorriso realmente feliz e um olhar muito firme, firme mesmo e desidido, corajoso, prescrustador que me obrigava a uma atitude muitas vezes, ele foi ficando com a fisionomia de um nobre senhor cheio de mistérios. Parecia-se um pouco com um lindo vampiro. Visivelmente continuava fazendo jus a este título que poucos homens merecem e recebem da sociedade: o de objetivamente objetivo mesmo. Eu almejava uma mordida bem na jugular e gemia por ele todas as noites de lua uivando de desejo reprimido. Não era menos belo, era mais forte, mais másculo e talvez ocultasse vários segredos seus. Espero que não tenha transformado seu rosto com nenhum bisturi. Eu tinha muito receio que ele fosse dado a cirurgias plásticas. Não se toca num belo rosto. Não se toca num belo corpo, a não ser que seja para acariciar com amor. Ele deveria saber disso. Ele deveria cuidar da transformação, assim como também da preservação, de prevenir antes de remediar. E então ele se pareceu com um rei. Talvez o rei Arthur fosse assim como ele, mas pensando melhor se fosse Guineveve não o teria traído. Ele era a encarnação e a edição melhorada do rei Arthur. Sentar-se-ia com os cavalheiros da Távola redonda para decidir com quantos paus se deve fazer um Titanic que não afunda.
Seus olhos continuaram a emitir certezas. Mas, era preciso que ele se cuidasse do dogmatismo. O dogmatismo era pernissioso e cruel para com as perguntas que ele fazia com o olhar prescrustador. E uma barba foi se desenhando nele salpicada de neve. A sabedoria não tarda e um dia sem julgamento algum naquela mente, sem cruzar os braços, sem sentir sua amiga tal qual uma inimiga, tanto o quizera ela, tão frágil e delicada, ele olharia com este olhar de quem nada sabe e tudo pergunta por ter visto tanto e eu não teria respostas para oferecer a homem que dedicou a sua vida inteira ao saber.
Seriamos os dois tal qual dois pontos de interrogação, um virado para o outro num desenho pouco inédito e um tanto óbvio. Quem visse nem saberia muito sobre nosssa história e mesmo que eu contasse não saberiam. Mas, seriamos aos olhos do mundo algo bonitinho, um pouco interessante, como estes sinais que a gente vê por aí tão importantes, mas nos falta visão suficiente para uma leitura suficientemente significativa. Mas, eu juro, eu queria te contar o quanto eu...ah...deixa para lá...
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