Não precisa dizer nada
Carreguei o passado para o futuro quando vi o teu rosto. Eu compreendi o que é deixar de ter a beleza da juventude para ter a beleza dos anos, no teu rosto, o rosto do meu amor, o rosto do amor. Na tua masculinidade passaste a te parecer mais com tua mãe do que com o teu pai e a expressão ficou mais pesada, mas séria, em compesação menos ansiosa e mais em paz. Nos compensamos. Eu não sou mais tão sensual e nem tu o és tampouco. Poderiamos ser duas velas juntas e não mais duas fogueiras incendiárias. Chato é que os ventos não permitem tua chama em minha direção. Por isso escrevo. É uma compensação. Eu deixo de ver gente para ficar comigo mesmo, pois me criei sozinha, meus pais trabalhavam muito, fui acostumada longe de ti, consigo ficar longe de quem eu amo, mas quando quem eu amo chega eu fico muito feliz. Sozinha, me perdoem os amigos, não abandono ninguém, apenas consigo pensar melhor, não precisar da opinião alheia e colocar minhas idéias em ordem. Sozinha eu também sinto tristeza e saudade, mas vou repetir: Tudo pode ser compensado e buscamos compensações para as faltas, as carências, para nossos defeitos mesmo. Na verdade não posso ser totalmente só quando boa parte do mundo eu carrego dentro de mim, como a lembrança do teu vulto, a personificação de uma história da qual eu só participei de uma década nesta vida. Hoje eu quero que te olhes neste espelho não de cristal, mas de palavras, palavras que apenas querem te contar talvez inulmente e com grande perda de tempo o quanto eu leio tua vida, mesmo quando não me escreves, não me falas, não me acreditas.
Sabe, a primeira mulher do Jung, escrevia para ele. Acho que ele até lhe respondia, mas não sei não. Nós mulheres somos capazes de escrever e falar tanto que podemos ficar sem comentários, sem respostas e cuidado, pois uma mulher pode até mesmo fazer um homem de fantoche e falar por ele, dizer o que ele deseja, dizer o que ele pretende, dizer para outra mulher que ele apenas estava tomando cuidado para não magoá-la quando a ouvia. Nada sei sobre isso. Não acredito em rivais. Acreditaria nas tuas explicações em particular, ao pé do ouvido, olhos nos olhos, com os lábios unidos, num carinhoso abraço.
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