Quase real
Levaste alguns anos para conquistar-me: dois anos. Eu era apaixonada por um sujeito muito digno até hoje, a quem eu nunca mais vi, mas considero amigo de qualquer pessoa honesta.
Esperei que estudasses tudo o que estudavas, esperei que assistisses algum programa de televisão, que atendesse todos os telefonemas que costumavas passar nos fins de semana para amigos e colegas, ouvi sobre você, ouvi a sua música com prazer, lhe dei carinho, amor e sexo durante dez anos. Aceitei até mesmo que conhecesses fisicamente outras mulheres. Aceitei ser namorada, e ser considerada "um caso", como dizias. Não tive auto-estima o bastante segundo a minha terapeuta floral. Aceitei ser tratada como jogador de time de reserva, aceitei implorar migalhas. Quiz morrer. Tentem suicídio três vezes. Aceitei psiquiatras muito burros e insensíveis me tratando na maioria dos casos. Tomei lítio em over doses sob recomendação médica e tive uma queda do meu lindo cabelo, no qual eu fazia luzes no salão de beleza para ter para ti uma cabeleira para poderes admirar e acariciar. Eras mesmo um mestre de carícias, um mágico da seduação.
Eu poderia me sentir uma mulher burra e magoada por todas estas coisas, e em parte é assim que eu me sinto mesmo, mas estou convencida a muito tempo de que amor e amizade não podemos cobrar.
Tu acreditaste nas palavras do teu pai e da tua mãe que não queriam o teu relacionamento com uma pessoa que de acordo com um psiquiatra burro que não tem a menor razão disse que eu era "obsessiva compulsiva". Pois, não sou. Eu controlo muito tudo o que posso quando estou segura. Eu não nasci um mostro. Eu fui uma pessoa muito quieta e tímida, de uma timidez extrema, eu fico na minha e não presto a atenção quando estou nervosa demais, triste e revivendo traumas. Um grande trauma que tenha é de multidão contra mim, pois isso ocorreu na escola. Mais de uma pessoa contra a outra é covadia. Hoje eu olho nos olhos dos covardes e os constranjo com toda a minha timidez que também é muita coragem.
Tu foste por bom tempo o guardião de uma pessoa muito carente, cujos pais quando pequena trabalhavam o dia inteiro e quando não estavam trabalhando viajavam muito, davam atenção para muitas pessoas doentes e para muitos parentes, quando houveram muitas mortes.
Tu foste o guardião da menina de quinze anos que não teve baile nem festa e convidou uma amiguinha para um jantar em casa, pois não podia se divertir quando sua tia morria de câncer.
Amaste a moça que na sua infância não pode ouvir música porque a avó havia morrido e ela nem gostava tanto assim dessa avó materna que não aceitava os seu jeito. Estudaste a menina de quatorze anos numa numa over dose de remédios dada pela própria psiquiatra, escolhida por pessoa considerada sempre idônea e achavas por bem ir lá quando esta menina não estava a fim de recebê-lo, não estava a fim que passasses a mão sobre os seus olhos como uma espécie de experiência científica de um rapazinho mimado que pretende ser doutor.
Tu viste uma moça se libertando dos remédios de uma psiquiatra que quiz interná-la aos 14 anos quando não quiz se matar e nem fez nada de mal a não ser chorar muito. Tu viste uma moça fazendo ginastica todos os dias. Viste seu cabelo ficar com um louro como o da Marlin Monroe, viu esta moça estudando muito e desenhando muito. Vinhas sempre com teu amigo vê-la. Tu buscaste esta moça todos os dias ou quase durante muito tempo e a levaste para a casa dela quando sabias que não faltava cavalheiro para fazer o mesmo.
Perguntaste uma vez se devias ir para os EUA, pois se fosses ela poderia ficar sem te namorar. Esta moça te disse: Vá para os EUA. Você não foi. Você ficou e investiu mais. Ela foi se apegando e se percebeu com ciúmes de uma colega sua que achava muito bonita e interessante. Então ficaste sabendo desse ciúmes, e a sua colega era muito religiosa. Pensaste que tua "deusa" não era. E alguém acabou pegando na tua mão. No começo não gostei dos teus carinhos, eu confesso. Não estava acostumada.
Então no começo foi tudo muito feliz. Tenho lembranças da praia, quando caminhavamos ao lado do mar. Tenho muitas lembranças do violão, de Vila Lobos, da Bachianina.
Fui ficando cada vez menos sozinha contigo nos últimos tempos em que ficamos juntos e na maioria das vezes foi para me demonstrares crítico demais, desprezando minhas qualidades e sem aceitar minha maneira de ser. Tua personidade é mesmo muito forte e tive de me redescobrir, pois eu já nem tinha muitas idéias próprias.
Tua mulher eu pensei que fosse uma pessoa admirável quando falavas nela, pela idéia que fiz, até que um dia mais a sós comigo, ao telefone ela me mostrou que escondia dentro de si uma mulher maldosa e capaz de tudo para manter talvez amor e carinho, mas para também manter seu mundo, as coisas que o teu dinheiro trouxe para ela e a assenção social que teve. Tanto que esta mulher me humilhou e não posso ter nem sequer consideração por quem me humilha. Ela não seria de jeito nenhum uma rival, pois quem ama é quem faz suas escolhas, mas é uma rival na vida porque assim o quiz quando me chamou de incoerente, quando me disse que ao procurá-lo eu não tinha nada o que fazer e quando me disse que me recebeste algumas poucas vezes, (não foi), por esmola, com esta espécie caridade onde quem dá é superior a quem recebe. Pois foi desta suposta pessoa inferior aqui que recebeste muito e se das força para maldade alheia és também frio e mau, morto de medo e de preconceito, com medo que a loucura te pegue, depois da loucura ter se agarrado tantas vezes no teu pescoço e ter proporcionado tantos orgasmo, depois de ter chamado a loucura para te consolar da dor e das vicissitudes da vida sempre que achou prudente.
Para isso não ser uma ficção deveria ter um ângulo de visão diferente, aquele da classe dominante sobre a classe dominada, o lugar comum cheio de enfeites do que o teu pai tem a dizer sobre isso, pois como podes entender de relacionamentos humanos se rejeitaste terminantemente a pessoa que mais o amou, que mais o quiz e talvez o ame até hoje?
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