De qual você gosta mais?
O psico-médico Dr Edgar ouviu sobre os sentimentos de Ella e comentou:
_Você se sai bem em dizer o que sente.
_Na maioria das vezes sim.
_Em algumas vezes você se sentiu forçada a dizer algo?
_Sim. Eu acho que quando eu me sinto constrangida a definir alguma coisa que não consigo entender ou assimilar direito eu crio uma fala e eu mesma me convenço de verdades que vão contra mim e me parece ser o que aquela pessoa quer ouvir e não o que eu tenho a dizer. As idéias se desenvolvem rápido e sem controle na minha mente quando se trata de imaginação. Perco o senso e preciso fazer podas devendo pensar um pouco para ver se digo ou não o que penso. Posso demonstrar falsamente uma sinceridade que é justamente um ponto forte meu. Nem sempre é tudo tão fácil de ver. Este é um dos problemas das terapias que eu fiz na terra. Cheguei a me sentir ludibriada por causa disso.
_Estas pessoas com quem você se tratou e você são terráquios e os terráquios pensam muito mal uns dos outros. Mas, acho que podiam estar te testando apenas.
_Pensamos assim mesmo uns dos outros. E é perigosa esta identificação. Acho melhor nos identificarmos com o bem.
_Sim e não. Não sempre.
_Venha comigo!
Andaram um bocado por estreitas ruelas arborizadas onde se ouvia o canto de muitos pássaros.
_Um jardim?
_Sim é um jardim mesmo, embora as flores sejam feitas de material diferente do que você está acostumada.
_As flores são lindas e muito variadas.
_Qual te atrai mais?
_Tá difícil. Eu estou gostando desta diversidade.
_É preciso escolher agora.
_Está bem, eu fico com esta amarela grande aqui.
_É a que você precisa agora. Adivinhou.
_É mesmo. Você pretende, então, preparar um floral para mim?
_Sim, algo semelhante. Apenas envolva esta planta com as mãos sem tocá-la diretamente!
_Que agradável sensação. Eu não falei nada, mas eu estava um pouco nauseada por certas lembranças e agora passou.
_Sim. Você estava se sentindo nauseada como se ainda estivesse na terra e tivesse um corpo humano, mas na verdade você não tem um corpo como aquele que costumava ter, podendo sentir ainda as mesmas sensações. Liberte-se! Aqui não existe náusea e nem existe dor e você não precisa decidir sobre o fato de você ser boa ou má: você é boa. Se não fosse boa não teria vindo para cá. Saiba também que você está em muito boas mãos.
_É mesmo?
_Sim. Veja, pela primeira vez você sorriu para mim. Estava começando a achar que neste rosto não havia sorrisos.
_Eu gosto muito dos florais. Eles me fazem dormir bem.
_Por coincidência nos chamamos a vinda a este jardim de Terapia floral também, mas não precisamos tirar nada das plantas, não precisamos cortar suas hastes ou colocá-las em meio líquido ou sacrificá-las no fogo para obtermos os seus benefícios. Esta como você viu é a diferença entre este e outros florais que você costumava tomar em sua maioria.
Agora me diga qual a relação que você percebe com esta flor e Dr. Eliot?
_Eu me sentia bem com ele, quando ele era meu namorado, quando era meu amigo...
_Ele é como esta planta. Se encaixava perfeitamente no seu momento e evitou que você manifestasse sua doença gravemente em todas as vezes em que esteve de coração ao seu lado.
_Tem bastante lógica o que dizes. Eu nunca tive uma doença grave quando estavamos de bem.
_Mas, você está se sentindo bem meste momento, porém não está curada. Me diga agora qual destas plantas você acha a menos dotada, a mais sem graça, talvez não muito cheirosa.
_Está difícil uma que eu não goste. São todas tão lindas.
_Sim, mas qual delas você menos gosta?
_Acho que daquela ali. Ela se parece com uma aristolóquia que é uma grande flor que tem um cheiro parecido com o das fezes dos animais para atrair moscas.
_Você precisa ainda mais desta planta do que desta de quem você gostou tanto. Mas, você precisa tanto que poderia ao receber sua energia sofrer uma espécie de colapso. Por isso ficamos por aqui hoje.
_Que pena. Estava gostando disso tudo.
_Você está bem como eu a percebo?
_Sim. Estou distraída e aquela tristeza se escondeu bem.
_Você queria somente o doce, mas saiba desde já que pode precisar do amargo. E precisa gostar do amargo. Eu não vou forçar você a nada, não se preocupe. Agora vou deixá-la no seu quarto.
_É muita gentileza!
Dr. Edgar deixou Ella na porta de seu quarto apertando sua mão como um cavalheiro. Deste que entrou ela sentiu muito sono e fez menção de tirar alguns sapatos que não estava usando. Costumava tirar o sapato e gemer. Quando percebeu que não tirou o sapato sentiu falta do gemido e fez um beicinho. Deitou-se e dormiu um sono profundo. Em seu sonho ela encontrou Dr. Eliot no jardim das flores. Vinham um em direção ao outro e sorriram. Abraçaram-se e deram-se as mãos. Muita luz expandiu-se; seus corpos sofreram um leve aquecimento; era como se ele estivesse mesmo ali ao seu lado. Ao soltarem-se um do outro na mão direita de Eliot surgira a mesma flor amarela com formato de tulipa supra mencionada e ele lhe ofertou com carinho esta planta. Ella acordou sem saber se tinha sonhado ou não até que se deu conta de sua dura realidade, nem a flor não estava presente restando mãos vazias num gesto suplicante. Ele tinha seus motivos, afinal e seria tão difícil consertar este cristal esfacelado. Rezou para que fosse possível este concerto e para que o seu sonho fosse o início de uma linda realização. Pediu também para não perder a fé. Precisava desta alegria das flores amarelas.
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