Mas, afinal o que é um encontro?
Vai ali na sua prateleira e procura no seu grande dicionário, provavelmente o Aurelião se você for brasileiro e saberás o que é um encontro. Um encontro é, pois, a coisa mais emocionante do mundo em alguns casos. Eu considero o encontro ideal aquele do filme "Em algum lugar do Passado". O encontro se deu na beira da praia enquanto ela caminhava e estava vestida de branco. Ele me parece que estava de terno e gravata na beira da praia. Tadinho do moço era muito inadequado quase o tempo todo, pois ele também era a mais adequada das criaturas. Se você não leu este filme e/ou não leu o livro (o livro é sempre melhor do que o filme) então não sabe e nunca saberá o que é um encontro. Sim, porque o encontro que ocorrerá aqui neste blog infelizmente acho que nem se compara. Não é por falta de amor não. É por falta imaginação. Já foi quase um milagre conseguido pelo nossos cupidos Emanuel e Kathiel o fato de Ella poder se encontrar com seu amor de uma forma que eu temo que não seja a mais romântica como no caso do filme supra-mencionado e como naqueles casos em que no seriado mexicano Dona Florinda se encontrava com o professor Girafales _Espero que você tenha visto estes magníficos encontros que ocorriam em torno de um simples cafezinho sem creme, sem chocolate e sem biscoito. Afinal para que não é mesmo? Se o professor Girafales molhou o Biscoito as crianças que viram esta obra prima só questionariam isso bem mais tarde e hoje estão deturpando de uma forma muito ignorante esta trágico comédia tão ingênua. Também poderiam se encontrar em um campo de girassois, já pensou que coisa mais linda? Poderiam encontrar-se ali naquele tal jardim terapéutico, se bem que o terapéutico possa tirar um pouco do tesão do encontro, me parece.
Kathiel e Emanuel já tinham avisado aos seus amiguinhos terráquios que não eram cupidos e nem costumavam ter esta finalidade. Na Terra Ella era sempre aquela pessoa franca que não fora poupada de todas as verdades possíveis e imagináveis. Sabia tudo e pensavam que ela agüentava muito bem nos ossos, mas agora ela fora poupada disso: não sabia que iria encontrar-se com o seu amado. E estava ali sentada em um banco ou algo parecido, algo como aqueles bancos de praça ou de parque. Olhava perdidamente para o nada quando ao seu redor muito verde vivo envolvia seu corpo em curas graduais e tinha um magnifico manto azul, rosa e lilás sobre sua cabeça onde dois sóis brilhavam tênues e pequeninos por entre brumas que costumavam conferir à realidade uma atmosfera de sonho e fantasia. Parecia que haviam fadas espiando por toda parte e dando risinhos, cochichando em meio ao canto de muitas aves que desenvolviam um linda sinfonia. Ella havia ultrapassado a tristeza e meditava no silêncio, ou quase. Não viu quando Eliot se aproximava. Ele carregava o violão nas costas em uma capa que servia de bolsa. Seus passos eram propositalmente lentos. Ele estudava detalhes mínimos ao seu redor e olhava bem para Ella, conferia como e se deveria mesmo chegar perto. Pelo visto ela não estava muito bem da cabeça, pensou. Achou-a muito parada e sem fazer nada. Poderia estar desenhando. Os olhos de Ella se grudaram em um ponto fixo. Ela estava sentindo uma espécie de morte e fragmentação. Queria ser cada uma das folhas e flores que pendiam da vegetação. Queria ser o banco onde sentava-se, o todo. Ele veio se aproximando e achando cada vez mais esquisito os cabelos de Ella, as suas roupas que eram feitas desta mesma luz difusa, mas pareciam trajes um tanto hippie dos anos sessenta. Havia franjas em uma jaqueta que parecia ter lantejolas. Achou que Ella estava um pouco carnavalesca para os eu gosto. E pensou:
... Enquanto ela viveu ao meu lado nunca se vestiu assim e nem usou os cabelos tão...tão grudados na cabeça. Não deve estar normal. E se não estiver o que é que eu faço?
Seus pés pareciam dominar seu cérebro e seu coração. Ele se aproximava devagar e chegou bem ao seu lado. Ela sentiu a sua presença e fingiu não saber. Aprendera este truque em uma encarnação em que foi aranha e tinha de fingir-se de morta quando algum predador se aproximava. ..Não ficam bem numa senhora idosa estas roupas. Pensou ele.
Eles ouviram dentro de si uma voz que dizia
_Aja com naturalidade! Com naturalidade.
Ella moveu lentamente a cabeça como se estivesse absolutamente calma, de uma calma estarrecedora e fixou o olhar feliz naquele rosto amado. A mágoa dos seus olhos se dissipou nas certezas que ele carregava em si, eram certezas experientes aquelas.
_Bom dia, Ella!
_Bom dia, Eliot!
_Eu trouxe aqui este violão emprestado, porque meu violão ficou na Terra e acho que nem tenho mais violão.
_Nem eu ...Mas, fazia muito tempo que eu não tocava mesmo.
_Também estou um pouco...kkk...fora de forma, mas ensaiei ontem a noite algumas músicas. Gostaria de ouvi-las?
_Claro, ela disse sorrindo. Sentia falta do violão tocado exatamente por ele, embora tivesse ouvido músicas muito lindas depois que ele partiu e até aquelas músicas que é melhor nem falar aqui, pois Dr Eliot abomina breguice.
Ella sentiu vontade de abraçá-lo pelas costas e ficar ali grudada como à muito tempo atrás, mas conteve-se e numa postura tesa um tanto estudada, na ponta do banco e de pernas cruzadas, sentiu-se um depositário de emoções e sentimentos bem menor do que ela mesma como se a qualquer momento pudesse explodir por não poder mais conter-se em si mesma. Ele não compreenderia se chorasse e foi o que aconteceu. Eliot nunca compreendia quando ela chorava. Ele fez uma expressão de desacordo e reprovação ao ver que ela chorava e continuou tocando, como quem diz, depois a gente conversa sobre isso. Tocou muito. Foi se lembrando de cor de uma música após a outra e Ella deixou que seus pensamentos voassem livres sem distinguir fronteiras no tempo e no espaço. Parou logo de chorar, por excesso de estímulo inicial e apresentou a expressão mais calma de si mesma, a mais feliz de todas, de uma felicidade sem qualquer traço de histeria ou ansiedade. Estava realmente feliz. Acho que a felicidade pode ser aqui o nosso ponto final. Não se mexe em time que está ganhando. Vamos sair pé ante pé daqui e sem fazer barulho. Foi em momentos assim que bombas explodiram bem em cima de viventes felizes deste jeito.
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