Tuesday, January 31, 2006
Esse querer absurdo
Dorothéia minha vida
Partitura
Wednesday, January 11, 2006
Haikai ou quase
Os loucos do hospício
assistiam TV
e Dorothéia também
*
Foto do meu passado
pássaro preso
Sonho roubado
*
Vai paixão
vai desejo
Amizade não
Fica carinho
*
Calo no meu pé
pulga de gato
Coração intacto
*
Taquicardia
Carinho de mão e de pé
Paralelepípedos
*
O engrediente
que faltava para ela
bigode de moço
*
Espia por entre folhas
o passarinho
bem lentamente
*
Mares de
verdes
espumas brancas
escoam em mim
*
Terminou o haiki, Dorothéia
_Saudade é palavra que não se diz, ainda mais em haiki. Por isso prende teu sonho na gaiola e vai trabalhar!
_Ai, titia, mas o zen as vezes é duro.
_Não critique, menina, pratique!
_"使われるようになってきております" (?)
Saturday, January 07, 2006
Teu percurso
Dorothéia "coroa"
Uma força inexplicável lhe foi mostrada a partir dos anos e sabia que poderia conter, expressar, contrair-se e expandir-se como bem lhe conviesse, suportando qualquer tipo de desequilíbrio que o seu corpo ou alma pudessem sentir, pois assim ela pariu um novo ser através da incompreensão do mundo que pairava sobre ela, obrigando-a a entrar por aquela porta que leva para todos os quartos escuros dentro de si mesma e acender a luz, na solidão. E fez o balanço de sua vida, verificando satisfeita que lucrara com a capacidade de reserva, de paciência, fé e esperança que apacentou sua alma ainda rebelde como seus cabelos, seus gestos e atitudes sempre escêntrica no seu meio pessoal, onde apenas por ser ela mesma deixava a todos com uma espécie de receio da imprevisíbilidade, algo que exitava e atormentava até mesmo quem simplesmente passava por ela. Dorothéia e seus mistérios! Era também engraçada e sabia disso, por isso comprou um chapéu de palhinha com uma enorme rosa pendurada em um tope de cetim lilás que cosumava combinar óculos de sol tipo coruja malandra e cuidadosa e andava erguida por altos tamancos de salto anabela disfarçando um pouco a sua baixa estatura, mas não o seu tipo "mignon" como costurmava dizer a tia a respeito da sua miúda flor mulher de personalidade por um lado frágil e por outro também muito forte deixando na dúvida e aos cochichos os observadores desprevenidos. "Você sabe quantos namorados ela já teve?" cochichou um homem mal amado para outro homem mal amado. E Doro fez que não viu. De quem ela queria realmente a atenção não a obtinha como se aquela planta criada com cuidados houvesse quase murchado toda, não totalmente, deixando com ela uma preocupação incomoda e latejante ao longo de todas as suas distrações com tudo o que é importante em diversos graus ou meramente divertido. Sabia que não havia hierarquia alguma a não ser na mente humana, mas estava sujeita, mesmo sem querer aos ditames da sua espécie que a faziam sofrer. Para Goethe a flor é o sofrimento da planta que gera os mais saborosos e um dia doces, maduros frutos. Estaria quase no ponto? Sim acho que já. Nossa personagem é bem feninina, mas não tão meiga e sim um tanto do tipo agridoce.
Foi assim
Eram um do outro aqueles dois, o masculino e o feminino, dois pontos de interrogação e muitas considerações exageradas haviam entre eles, pois a vida insistia em que não fossem de vez em quando ter uma conversa juntos, fosse num parque, no telefone, ou num destes cafés da cidade que possibilitam educação e finesse entre os clientes e garçons, onde poderiam simplesmente co-existir, fazer trejeitos, talvez nem dizer nada, no máximo tocarem-se de leve, pois o atentado ao pudor público é algo que causa imensa inveja. Mas, não. A imaginação crescia. Ele, para ela ao menos, pois Dorothéia contou-me melhor, era uma espécie de monstro genial, ser fantasmagórico, capaz de piruetas sexuais nunca vistas antes e de sussurar imitando todos os bichos no seu ouvido fazendo a gemer e retorcer-se toda de prazer. Não havia como o seu cheiro, um cheiro de homem como nenhum homem até hoje conseguiu cheirar causando com isso uma espécie de propaganda do produto que oferecia, o ser inteiro para que fosse acariciado, beijado, mordido e lambido e desejado, com anseio, quase com loucura, pois a coisa que ele mais detestava era a loucura e para seu desatino ela era completamente louca e por ele. Eram demais um para o outro e este exagero todo os afastou não permitindo que se aplainassem arestas através desta prática que nos amacia, nos desgasta, irrita e nos faz ponderar , o relacionamento rotineiro, ter consideração, espera, cansaço e pequenas decepções que acabam com qualquer mito. Mas, não, ele principalmente não queria isso. Por isso escondeu-se bem dela e ele lhe aparecia a noite, belo, belo, belo como uma estatua grega, como o chamava, com pequenos músculos trabalhados a sobresairem-se dos ossos onde todo o corpo era harmonioso e o olhar era esfumaçado como se sobre os olhos ateus sempre pairasse uma névoa que o protegia do mundo deixando aqueles olhos parecerem-se com uma figura onírica com vida própria se apartados do corpo com quem conviam em total unidade e iluminando a mais bela criação que o papai do céu havia feito na face da terra. "Ai, meu amor! Ai, meu amor! ai meu amor, como dói o amor!" Gemia Dorothéia no escuro sem pregar os olhos. "Ou será esta miséria que me resta?"