Tuesday, May 23, 2006
Miséria conjugal
Foi uma paixão incendiária. Um fogo que se consumiu a si mesmo. Ela foi se cansando todas as vezes em que ele urinava para fora do vaso, em que ele reclamava do tempero da comida, derrubava tudo no chão e achava que ela devia ser como as mulheres de suas revistas de mulheres nuas, como nos filmes...Todas as roupas que lhe dera ela detestava usar e não sabia direito o que queria, mas sabia muito bem do que não estava a fim.Teria sido preciso encarar tudo realisticamente sem perder a ternura, mas ele não lhe perdoava rugas, celulite e um olhar cada vez mais opaco que ela ia aprensentando quando se declarava cansada de tudo e da vida. Não havia filhos e ele era o filho grande que não percebia que reclamava da mãe uma atenção de criança que talvez nunca tenha tido e por isso sua carência era como um bolso puido onde se depositam moedas que caem sobre o chão. Sempre achava que havia pouca comida para o jantar e que poderia ter mais isso ou mais aquilo daqui e dali. Ela queria mudar completamente de vida e sempre se acomodou nas situações desagradáveis e cômodas, pois não tinha impetos de construir uma vida, um destino como o que sonhava e gostaria. Construia um pouco e incrustava-se outro tanto, num canto, magoada, culpada e insatisfeita consigo mesma até que recebesse algum estímulo externo, como um choque pequenino da tomada que trouxesse alegria e a fizesse reiniciar suas atividades, nem sempre em dia, mas com um capricho que aprendera da mãe que reclamava muita ordem e elogiava o cuidado por vezes obsessivo que tinha como acabamentos. Aquilo a fazia tornar-se muito briguenta e ranzinza com ele que buscava consolo na imagem de outras mulheres e em flertes levianos e descomprometidos que só mesmo pode possuir o homem casado.
Leu a letra de uma música num blog. Era uma tradução e percebeu que um rompimento de relacionamento outrora amoroso era como uma espécie de revelação tão mística quanto aquela de um crente que repentinamente se livra de um "deus" vingativo que possuia desde criança, que não o perdoava por nada e lhe causava terror em vez de lhe trazer proteção. Descobriu que não amava mais aquele homem e lhe disse isso com todas as letras. Ele não se importou e aceitaram tão friamente essas suas realidades que fizeram planos para o futuro, um futuro onde só estariam na memória um do outro, sem culpas, sem disputa por objetos materiais e com um certo carinho que se colocava sem mesclar-se a razão pura e reflexiva de dois fleumáticos. Aquele carinho que sobrou era a única força que restava aos dois para começar de novo.
Mas minto, ela desejou que fosse assim no seu caso, mas
o pessimismo do esposo não permitia nem a ele e nem a ela mesma que um passo além fosse dado na vida quando o medo do futuro os paralizava e assim estiveram um de fronte ao outro num jantar triste sem dizer palavra alguma enquanto sorviam uma sopa, preparada com os restos que haviam na geladeira e que lhe ardia nos dentes de tanta pimenta, mas seria preciso mais de trezentas vezes temperar assim para que neles se movesse um músculo qualquer da face e esta cena me lembra, não sei porque, os comedores de batatas de Van Gog, mas eles não eram pobres, nem feios, nem doentes. Então o que é que lhes faltava?
Sunday, May 14, 2006
Quando a mãe de Dorothéia se foi
deixou muitas coisas dela com Dorothéia e muitas ela reciclou e deixou de outra maneira. Doro herdou o jeito da mãe tanto física quanto psicologicamente. Alguns chegaram a confundir-las trocando-lhe os nomes. Mas, Dortothéia nunca foi e nunca será uma extenção de sua mãe. Minha mana que rumou para outros mundos se fez mais forte em Dorothéia, mais franca e mais amiga, como se tudo pudesse sempre ser mais do que já é. Seus defeitos como pequenos espinhos quase nunca me feriram e quando o fizeram foi para esquecer completamente depois. Eu sei que ela vai vencer na vida e realizar até mesmo os sonhos que eu nunca realizei. Esta menina é como minha filha. Esta menina é minha filha. Ela me trás alguns filhos e me trará outros. É a menina dos meus olhos.
Quando a mãe de Dorothéia se foi ela deixou o mundo marcado com sua presença, com seu perfume e com lembranças intensas. Quando ela se foi ela não foi completamente, mas ficou e eu a contemplo em cada rebento, em cada broto de vida, em nós impregnada para sempre.
O quer será mesmo?
Vou dizer-te uma coisa:
Não vem de ti,
Nem de tua ausência tão indesejada.
Mas para ela és remédio,
Composto universal, panacéia...
Nem queria ser para poder estar-te
Em mim e em ti, antes e depois do amor
Quando bem sei que nem tudo seriam
Flores e oferecer-me-ias toda esta soberba e
Ilusão que hoje nos separa?!?
Ainda tem meus créditos de confiança mútua.
Nem sei do que seria capaz por ti e sei o
Quanto dói calar-me, verbo mágico
Que faz além de nós e aprendê-lo é
Crescimento certo do lado de dentro que
Vai morrendo e renascendo eternamente em
Ondas com a dor de ser deixada à própria sorte,
Responsável por mim, por outros e sem
Responsabilidade ou crédito algum para contigo.
Sem cobranças...E assim mesmo sentindo a tua
Falta..
Talvez se o veja eu faça que não o vejo e empine bem
O nariz, e vou tentar embaçar os olhos para
Aprender a olhar como tu para o mundo, um mundo
Mergulhado em brumas num tom opaco, transparente e
Lúdico....
Talvez não o reconheça, talvez fique atrapalhada
Confusa, talvez te beije as maçãs de um rosto e
te dê um abraço sentindo-te a flor da pele...
Tanto faz tudo o que ocorre se tudo isso ocorrer e
Fores o mesmo em não saber-me.
Do lado de dentro importa, e posso vê-lo calada ou
Proferir teu nome, quando muitos já o proferem,
Nunca com esta significação tão peculiar
E pessoal. (Vou deixar aqui um espaço para
Que escrevas o teu nome que não pode ser proferido ou
Teremos um absurdo) ......................................(escreva
Do próprio punho, por favor!)!!!!!!!!!! (Chamamento
Obsessivo)
Comporia para ti mil poemas, mil canções e
Tecer-te-ia longo pala para me esconder dentro dele
E não sair de lá nunca mais. Se tudo isso soubesse bem
De cor eu o faria tão bem para tentar comprá-lo no mercado das
Pulgas como um troféu de ouro, prata e diamantes
Como fazes para todos aqueles a quem te vendes sem saber
Barato ou caro.
Mas mesmo assim, por ti não roubaria nenhum astro do céu.
Eis
Que de coração possamos reconhecer todos os
Astros como parte de um mundo confuso feito aos
Cacos principalmente depois que tu te foste colher
Pequenos corações em outras cearas e me esqueceste,
Grande menino mau. Não sabes que catástrofe ecológica
Causaste aqui neste mundo devastado de um equilíbrio que
Jaz sem teus acordes.
Não sabe mais como me amas e não sabes com eu
O amo, pois se apenas soubesse desta última sentença
Não sentirias medo da tua aprendiz mais aplicada
Na Escola do querer com lições a mais a aprender e
Chama ainda intensa a pedir-te alento, sossego, carinho, beijos,
Ou talvez um simples gostar e ser bem-vinda no teu
Coração apenas já muito bem me servisse...
Friday, May 05, 2006
Conversa sem verso
_Você Dorothéia é tão pequenininha que cabe na palma da minha mão.
_E você tia é tão grandona que cabe na palma da mão de um gigante.
_Só se o gigante deixar você vir junto.
_Só se o gigante não comer a gente.
_E se ele for boa gente.
_Sim. Assim podemos brincar com o gigante de parque de diversões.
_Eba!